quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Tsunami em Chañaral - Chile

          Em 2013 realizei uma viagem ao Atacama, sozinho eu percorri 7.550 km saindo de Curitiba, indo a Mendoza, Santiago, Antofagasta, San Pedro de Atacam, Salta e Corrientes. O quinto dia de viagem foi punk, fui obrigado a andar 1.100 km e acabei parando numa cidade da qual passei a ter um carinho especial.

          Bom, sai de Santiago rumo a Copiapó, porém, ao chegar em Copiapó, passei em mais de 10 hotéis e não achei vaga em nenhum hotel, tomei então a decisão de ir para a Antofagasta, detalhe, já eram mais de 19 h e a distância a percorrer era de 560 km.

          Nessas horas aparecem nossos anjos, percorri mais de 100 km à noite, pelo GPS percebi que estava andando pela costa do Pacifico, depois de algum tempo tive que parar devido obras na pista,
havia uma fila enorme de carros e caminhões parados, comecei a fazer um corredor entre os carros até parar próximo a um ônibus, fiquei ali conversando com o motorista e com o cobrador, mencionei a eles que meu destino era Antofagasta, eles me disseram que eu era louco de querer ir adiante passando à noite pelo deserto, devido ao frio. Foi ai que apareceu um passageiro, um senhor com a idade um pouco acima da minha, perguntou porque eu não parava em Chañaral para dormir e então eu resolvi seguir seu conselho.

         Logo que a pista foi liberada eu apurei para não ficar atras dos caminhões, foram quase 8 km andando em estrada de terra e à noite, para ajudar, a moto deu uma pequena pane e falhou, um pequeno problema no bloqueador. Andei mais uns 15 km e então cheguei em Chañaral, passei no primeiro hotel, que parecia mais um bordel (rsrsrs), mas estava lotado, o segundo não tinha estacionamento para a moto, nem internet, eu precisava me comunicar com minha família para dizer que esta tudo bem. Já estava começando a ficar chateado, quando de repente, no sinaleiro que eu estava parado, o passageiro do ônibus apareceu e me indicou este hotel, ficava a duas quadras da rodoviária e ele se propôs a me acompanhar até lá.

          O hotel era simples, paguei 20.000 pesos chilenos pelo pernoite, barato, em comparação com a Rede Ibis, onde o pernoite na noite anterior tinha sido 170.000 pesos chilenos sem o desajuno (café da manhã). Quem me recepcionou no hotel foi a Dona Carmen, ele me disse que havia apenas um quarto, mas era necessário eu olhar antes para ver se eu iria ficar. O quarto ficava no fundo do hotel, era simples  mas bem limpo, a cama era forrada com uma colcha de crochê muito bem trabalhada.

          A surpresa veio no dia seguinte, descobri que o hotel estava cheio, o quarto em questão era de serviços e era onde a Dona Carmen dormia, fiquei sabendo que ela dormiu no chão da cozinha. Para alguns, o hotel faturou mais uma hospedagem, mas para mim, algo espiritual aconteceu ali, desde o momento em que fui abordado pelo passageiro do ônibus.

          Como todos sabem, em abril desse ano aconteceu um tremor de terra no Chile e infelizmente Chañaral foi seriamente afetada, o hotel em que fiquei hospedado, caminhões foram arrastados pelo tsunami, pessoas ficaram horas sobre o telhado aguardando ajuda.

          Não foi a primeira vez que isso aconteceu em Chañaral, no ano de 1922 um terremoto seguido de um tsunami com uma inundação causada pela dureza do inverno planalto de Chañaral, a tragédia começou quando com um intenso terremoto de 9 graus na escala Mercalli e magnitude de 8,5 graus na escala Richter ocorreu entre Antofagasta e Santiago. Trinta minutos mais tarde, um grande tsunami atingiu a costa de Chañaral, Caldera e outras regiões.

No circulo - local do hotel




          Para o próximo ano programei uma nova viagem ao Chile, quero passar por Chañaral e encontrar Dona Carmen, espero encontrá-la bem. 

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