Este espaço foi reservado ao nosso amigo Antonio Carlos Severo Wiedermann, conhecido como Toni, para que ele relatasse sua experiência na viagem ocorrida em 2017.
Atacama a viagem dos sonhos
Por Antonio Carlos
Severo Wiedermann
O Início
Em outubro de 2017 tive a maior aventura de minha vida até aquele
momento, foram 12 dias inesquecíveis, com significado muito importante para
minha vida.
Nas entrevistas sempre se pergunta, que palavra você pode definir esta
viagem? Eu responderia de várias formas, mas a palavra mais interessante seria
"Superação". Então vamos agora explicar o porquê desta palavra.
Tudo começa numa bela noite em meados do mês de maio, quando fui no
encontro Curitiba Moto Point e passando pelas barracas, ao chegar na barraca do
ainda desconhecido Rogério Boschini, troquei umas palavras com o mesmo e durante o
bate papo, entramos no assunto da viagem ao Atacama.
Após ele contar suas aventuras e dizer que estava organizando um grupo,
eu já pedi para ele dar como certa a minha participação. Citei que tinha uma
Dafra Horizon 250 e Rogério me tranquilizou dizendo que se a moto tivesse bem revisada,
faria a viagem sem problemas. Ele me deu um cartão e dados do facebook e nos
dias que seguiram os contatos aumentaram e Rogério criou o grupo do Facebook e
Whatsapp exclusivo para os interessados na viagem.
Preocupações
Desde o início deste projeto, tive sérias dúvidas e questionamentos do
meu equipamento, da questão financeira e o principal do
meu emocional e da minha família que foi envolvida, mas vou deixar para vocês
ver nas linhas que seguem, como foi que superei cada uma.
Conhecer os companheiros de viagem
O grupo foi importante para o início de uma relação de amizade entre os
integrantes. Fizemos passeios e sempre trocávamos mensagens no Whatsapp, a
animação era grande.
Nesta época comecei a alavancar os recursos, que eram poucos e também
começou a saga da documentação e das manutenções. Nesta fase tive grandes
problemas com a questão da identificação, pois a Receita Federal cancelara a
emissão de passaportes por falta de verba da união, me obrigando a ter de
renovar o meu RG que tinha mais de 5 anos. Foi uma saga de vários capítulos. O
primeiro foi tirar a 2ª via da certidão de casamento e corrigir o nome da mãe na base do
Instituto de identificação que estava incorreta, pois não possuo nome de mãe no
registro de nascimento e nem fui adotado. Tive de tirar segunda via do registro
de nascimento pra provar a minha situação. De posse do RG, parti para os outros
documentos necessários e que Rogério nos orientara. Carta verde, Carteira
de vacinação, liberação da financeira e os demais foram conseguidos, com
exceção do PID, que enroscou no nome errado da minha mãe na carteira de
habilitação. Este documento, foi um dos pesadelos que vieram a me atormentar. (O PID não é um documento obrigatório na Argentina e Chile, porém, na Argentina alguns policiais em busca de propina já solicitaram em outras ocasiões, GRIFO Rogério Boschini).
Preparação, esta palavra eu segui à risca no último mês antes da viagem,
isto porque apesar de estar com minha moto a quase dois anos, eu tinha tido
vários problemas de oficina com a mesma, era um fantasma que me assombrava,
isto só foi resolvido depois que conheci o Tony, ex-mecânico do Silvio da
Moto Store, o cara é bom. Como uma prévia e para testar a moto, fiz viagem em
setembro à Serra do Rio do Rastro e na volta desta percebi que tinha de
caprichar os preparativos. Comprei um jogo de pneus novos, fiz a embreagem (que
estava meia boca), troca de óleo e filtros, troca da relação, e da melhor qualidade
(gastei o olho da cara) do fluido do radiador e pastilhas de freio e comprei um
pelego, este foi a melhor aquisição como veremos mais tarde.
Na última semana antes da viagem, separei o dinheiro necessário (foi bem
apertado), comprei calça de cordura no Silvio e adaptei o sissi bar do garupa
para a posição de piloto (gambiarra), esta, também foi uma decisão acertada.
Um dia antes, preparei a bagagem de viagem a qual pelo volume descomunal
(erro de principiante em viagens) veio a me dar grandes transtornos. Carreguei
ferramentas desnecessárias, roupas demais, remédios que jamais usaria e como
veremos itens importantes foram esquecidos, exemplo durepoxi (vocês saberão
mais a frente).
A viagem 1º Dia
O dia da viagem já começou com o senhor Tony acordando atrasado, depois
de uma noite ansiosa, onde dormi mal, portanto vai a dica, antes de uma viagem
procure controlar a ansiedade.
Como disse cheguei um pouco atrasado no ponto de encontro e já nervoso,
após as orientações de Rogério saímos em viagem.
O primeiro dia Curitiba - Foz: Este dia transcorreu normalmente, apesar
do trânsito intenso e estrada perigosa, como saí nervoso, a preparação para
filmagens com a SJCAM e fotos com celular, bem como o mp3 no capacete para
ouvir músicas ficou em segundo plano. Saí fazendo minhas orações cristãs e uma
série interminável de Mantras Indianos, deu pra ver que tenho uma religiosidade
um pouco complexa e que não vale a pena prolongar.
Durante a viagem sempre vinha a insegurança com relação ao equipamento,
perguntas surgiam o tempo todo, que barulho foi esse? Será que ela aguenta?
Como resposta a branquela me uma tocada forte e segura. Porém durante este
trecho surgiu o primeiro problema, a luz de freio traseiro estava travando
acessa e dava impressão que eu estava freando o tempo todo, para resolver numa
das paradas removi a perinha, uma vez que a o freio dianteiro acionava ela
normalmente, portanto tive de me policiar em frear primeiro com o freio dianteiro.
A chegada em Foz foi um alívio, pois a insegurança com o equipamento e
os problemas ficaram para trás. Após um banho de piscina de água gelada e uma
deliciosa janta num restaurante Sírio fomos dormir.
A viagem 2º Dia
O segundo dia Foz - Corrientes: Acordei animado e descansado,
pronto para o que viesse pela frente. Após o café arrumamos as bagagens e foi
aí que comecei a perceber quanta porcaria eu tinha trazido para a viagem,
começou o sufoco.
A viagem 3º Dia
O terceiro dia Resistência - Salta: Após uma noite bem dormida, num hotel
simples, limpinho e agradável, chegou a hora que mais me estressava, arrumar a
bagagem. Gente que sufoco, de raiva deixei para trás o fluido do radiador, um
pullover, uma proteção de manopla para chuva (que fez falta depois), um dos três
pares de luvas que trouxe para viagem e outras coisas que nem me lembro.
Foi um dia longo, grandes retas e paisagens lindas, animais na pista,
cidades pequenas, asfalto ruim num trecho de 50 km perto de Pampa del Inferno
e costumes interessantes, como o dos motociclistas da Argentina e Chile não
usarem capacete, as capelas a beira de estrada, chamadas de gauchito e a
cordialidade das pessoas que nos recebiam. Após uma viagem bem cansativa,
chegamos no centro de Salta e paramos para abastecer, foi aí que surgiu o
terceiro problema em minha moto. Um vazamento estanho no radiador. Estava tudo
vermelho do liquido arrefecedor, desconfiei de furo, mas achei que era
aquecimento, pois o trecho final de uns 200 km fizemos beirando os 130km/h
velocidade que minha moto fez tranquilamente, então seguimos para o Hostel. Esta pousada teve
um gosto especial, além do bom atendimento, tivemos um happy hour regado a
cerveja Salta e as famosas empanadas Argentinas, uma delícia.
A viagem 4º Dia
O Quarto dia Salta - São Pedro do Atacama: O dia começou com a terrível
confirmação de que meu radiador estava furado, desespero total de minha parte.
Após conversar com Rogério, decidi seguir em frente e cruzar a cordilheira
daquela forma. Me abasteci com várias garrafas de agua e segui em frente.
Chegamos a Pumamarca e após um passeio completei 500ml de água no radiador. Esta
travessia da Cordilheira era a parte mais esperada por mim, e infelizmente foi
a menos aproveitada até aquele momento. O nervosismo com o problema do radiador
tomou conta de mim, eu não tirava os olhos do led de alarmes, não conseguia
relaxar. A cada parada eu tinha de abastecer 500ml de água. Viajando olhando as
botas molhadas e orando muito a viagem seguiu, mesmo paradas nos salares da
cordilheira e um bom almoço em Susques me animaram. Seguindo pela Cordilheira o
vento forte era implacável com as duas motos Dafra 250cc (super gêmeas), tanto
a minha como a do meu colega Leonardo não renderam o esperado, e chegamos a
atrasar o comboio. Neste momento de tensão o apoio de Rogério e dos demais
amigos foi muito importante. Chegamos ao Paso de Jama, e já nervoso com os
problemas mecânicos, fiquei ainda mais tenso com a burocracia, mas graças ao
bom Deus, deu tudo certo e finalmente entramos no Chile. Faltando pouco mais de
200km este último trecho teve surpresas agradáveis com o gelo da cordilheira,
muito frio e um lindo pôr do sol, chegamos em São Pedro do Atacama já noite.
Não existe palavras para definir o alívio e felicidade de chegar no hotel, após retirar a bagagem e sofre
no banho frio uma bela noite de sono era só o que eu queria.
São Pedro do Atacama
Chegamos num sábado e no domingo tivemos o dia
livre para passear visitamos o Vale de La Luna, eu, porém só pensava e arrumar
o radiador, depois de muito procurar pela cidade por uma oficina aberta,
desisti e tentei aproveitar a estadia. Na segunda eu deveria ir para El Tátio
com os colegas, mas o foco era os reparos. Achei oficina com bons mecânicos e
comprei um fluído de cera com pó de cobre para tapar o furo, mas não deu certo
e só piorou a situação, obstruiu a bomba d'água e se depois de desmontar e
limpar que voltou a funcionar. Como o fluido não resolveu o mecânico disse para
eu usar POXILINA, que na verdade é o nosso durepoxi, mas seria por minha conta
e risco. No outro dia era para estar em passeio para Antofagasta e desisti por
medo de ter problemas no radiador. Desmontei o radiador tirei as aletas
e descobri um furo de 1,5 cm de extensão, para resolver coloquei o durepoxi dos
dois lados fazendo um sanduíche e deixei secar.
Enquanto secava fiz dois passeios, o Salar do Atacama e pelas
Lagunas Altiplanicas (Miscanti e Miñiques), foi o que salvou minha passagem pelo
Atacama. Um passeio incrível onde tirei lindas fotos.
O Retorno
Hora de voltar: Muitas saudades ficaram de São Pedro do Atacama e um
gostinho de quero mais, mas tinha um caminho de volta e ainda a incerteza de
que meus problemas tinham acabados com o durepoxi.
Saímos de São Pedro do Atacama e tiramos uma última foto no Vulcão
Licancabur e seguimos viagem. Para meu alívio o vazamento tinha sido resolvido
e agora eu poderia aproveita a paisagem da Cordilheira. Tirei um monte de fotos
e me diverti.
A viagem seguiu até Salta e dali para Corrientes, onde meu colega
Leonardo teve problemas com pneu e a relação e Rogério com a parte elétrica de sua moto,
atrasamos e dormimos num hotel no meio do caminho que tinha um sistema de banho
baseado em rabo quente, isto mesmo rabo quente, foi muito engraçado.
No outro dia seguimos em dois grupos separados para Corrientes e tivemos
de nos separar por conta dos problemas já citados, mas não interferiu na minha
viagem. Eu estava confiante, faltava muito pouco para entrar no Brasil. Saímos de Corrientes com expectativa de pousar no meio do caminho e no
outro dia seguir para o Brasil.
Neste último trecho apenas a 200km de Foz do Iguaçu meu colega Leonardo
sofreu acidente grave na estrada, porém sem ferimentos. Com o apoio e a
tranquilidade que Alexandre Gerardhi, nosso anjo da guarda nos passou e com
muita sorte conseguimos deixar a moto em condições e no outro dia seguimos para
o Brasil. Muita chuva neste último trecho, mas enfim o solo brasileiro. O resto da viagem correu normalmente e chegamos são e salvos em casa.
Trouxemos uma bagagem de experiência e histórias que ficará para sempre em nossas
memórias.
Considerações finais
Esta foi a viagem da superação, onde superei os problemas financeiros,
os medos, a ansiedade, meus conflitos internos e fobias para realizar um
sonho. Realização é tornar real algo difícil, impossível e insuperável e
quando superamos todas as barreiras que temos que transpor, crescemos,
aprendemos e incorporamos ao que somos. Sou outra pessoa após esta viagem, mais
forte, mais feliz e com novos sonhos a realizar, por esta razão escolhi a
palavra superação para definir esta viagem.
Teria muito mais a falar, como os momentos de tensão (algo normal entre
seres humanos) e descontração com os colegas, as minhas emoções, percepções e
sem falar da parte espiritual, mas já sairia de um simples artigo para quase um
livro, o importante é que está tudo registrado em minha mente e vou levar estas
lembranças maravilhosas pelo resto de minha vida
Agradecimentos a minha esposa pela força nos momentos difíceis e todos
os membros desta equipe de vencedores e em especial a Rogério Boschini e
Alexandre Gerardh que foram meus anjos amigos e ao meu Deus.
Bacana o relato do Toni, diria que, entre os participantes ele era o mais místico e o mais ansioso, sempre preocupado com os detalhes. Seu maior receio seria conseguir levar e trazer de volta a sua Dafra Horizont, para isso, a resposta é simples, toda motocicleta que esteja com sua manutenção em dia consegue realizar esta viagem, até mesmo as carburadas, basta lembrar que muito antes das motos de injeção eletrônica já haviam os aventureiros que atravessavam a cordilheira.
Quando iniciei este projeto, a ideia era poder oferecer a oportunidade a todos, lógico, apenas com a exceção para motos abaixo de 250 cc, misturar motos de 125cc a 1200cc não daria certo, colocar motos de 250cc de certa forma já era um risco, mas como a proposta era andar nas velocidades entre 100 km/h a 110 km/h, as de 250cc o motor já não fica com giro muito alto, então tudo bem.
Uma das exigências para a viagem era que tanto pneus, relação e pastilhas de freios fossem trocadas, principalmente as pastilhas, pois em nosso caso iríamos subir e descer a cordilheira duas vezes, exigindo demais desse componente. Bom, o grave acidente mencionado se deu pelo fato que infelizmente nosso amigo Leonardo não realizou essa tarefa, pagando caro por isso e de certa forma atrasando o bonde.
Já no caso do Toni, uma pedra no radiador poderia acontecer com qualquer moto e em momento algum, mesmo com seus problemas, Toni atrasou o grupo, no momento de maior dificuldade, onde estávamos com um vento lateral muito forte, solicitei aos demais integrantes que seguissem até o posto de gasolina na aduana Argentina/Chile, eu e o Sr. Alexandre Ghirardi ficamos com o Toni e o Leonardo, dando o apoio, as duas Dafra Horizont foram valentes.
Outro detalhe apontado refere-se a documentos, viajar para a Argentina e Chile não são obrigatórios nem passaporte e nem o PID (Permissão Internacional para Dirigir), no entanto, em meus grupos costumo solicitar aos participantes que providenciem tais documentos, uma pela facilidade no trâmite junto as aduanas e outra para evitar policiais corruptos. Você conseguiria no meio do nada argumentar com um policial mal intencionado?
Valeu Toni, obrigado pelo seu relato, que venha a próxima aventura!!!
Obrigado pela revisão e pelos comentários, ficou muito bom. Se der certo em Outubro estaremos novamente na estrada, agora melhor equipado.
ResponderExcluirAbração
Toni
Show cara ...tenho uma TB...queria fazer a patagonia Argentina, será que gasta muito? Uns 5 conta da pra ir ?
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